sexta-feira, 10 de julho de 2009

Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar

FREIRE, Paulo. Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar. 16 ed. São Paulo: Olho D’Água, 2006.

Por: Ronicilda Stheomar de Carvalho


Paulo Régis Neves Freire, educador pernambucano, nasceu em 19/09/1921 na cidade de recife. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensinou a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família. Com 10 anos de idade a família mudou para a cidade de Jaboatão.
Na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua portuguesa. Com 22 anos de idade começa a estudar direito na Faculdade de Direito do Recife. Enquanto cursava a faculdade casou-se com a professora primaria Elza Maia Costa oliveira com quem teve cinco filhos. Nesta mesma época começou a lecionar no Colégio Oswaldo Cruz em Recife.
No ano de 1947 foi contratado para dirigir o Departamento de Educação e Cultura do SESI, onde entra em contato com a alfabetização de adultos. No ano de 1964 foi convidado pelo Presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o método de alfabetização de Freire foi considerado uma ameaça à ordem, pelos militares. Viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo conhecimento na área de educação. Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, foi lançada em 1969. Nela, Freire detalha seu método de alfabetização de adultos. Retornou ao Brasil no ano de 1979, após a Lei da Anistia.
Exerceu cargo de Secretário Municipal de Educação na Prefeitura de São Paulo, onde realizou um belo trabalho. Assessorou projetos culturais na América Latina e África. Morreu na cidade de São Paulo, de infarto, em 1997.
O texto de sua obra Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar, publicado pela primeira vez em 1993, ”embora simples”, é conciso, apresentado de forma clara, lógica, coerente e sistematizada.
A linguagem utilizada pelo autor é e fácil compreensão. Trata-se de uma obra dirigida àqueles que “ousam ensinar”, expondo questões fundamentais sobre a intenção de mostrar a tarefa do ensinante como aprendiz, exigente de seriedade e de preparos cientifico, físico, emocional e afetivo.
O autor, defensor veemente da prática libertária da educação, continua expondo sua reflexão sobre o ato de pensar e de escrever, introduzindo neste contexto um novo assunto, qual seja a polemica temática levantada, apresenta idéias originais, verdadeiras, reflexivas, com conhecimentos novos, amplos e abordagens diferentes, contribuindo no aprofundamento do assunto, valorizando a professora através da sua responsabilidade profissional, como característica determinante e fundamental para sua formação exigida de forma permanente.
Em seu prefácio faz uma advertência crítica e analítica sobre a avaliação da atuação profissional do professor, enfatizando a necessidade de uma solidariedade dialética entre o exercício da teoria e da prática, remetendo-lhe a uma releitura de si mesmo e a um repensar do seu fazer cotidiano como “ensinante-aprendiz”.
Justifica o nome concebido à sua obra, reconhecendo a amplitude do tema a ser tratado, afirmando que o enunciado professora, sim; tia, não, não se opõe à professora como tia, mas também não identifica ou reduz a professora à condição de tia. Significa, pelo contrario conceder algo fundamental à professora: sua responsabilidade de profissional, que envolve trabalho e especificidade no seu cumprimento. Ao passo que ser tia é viver uma relação aparente de parentesco, portanto, nunca poderia ser uma profissão.
Freire procura através do enunciado, exigir um empenho à compreensão e entendimento do significado de cada uma das palavras que o compõe, enquanto inseridas numa trama de relações. Divide este enunciado em três blocos distintos: 1- Professora, sim; 2- tia, não; 3- Cartas a quem ousa ensinar, enfatizando a tarefa do ensinante como um comprometimento e gosto “de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo que ela implica” e sobre a impossibilidade de ensinar sem ousar.
Assegura que essa visão de uma classe profissional como sendo constituída de parentes das crianças cria expectativa de que não é preciso uma boa qualificação para fazer o trabalho de ensinar além de uma visão política passiva e alienada, já que identificar professoras como tias “é quase proclamar ‘professora’ como boas ‘tias’ não devem reacionar ou democratizar o seu papel profissional quanto ao seu posicionamento político e ético na sua função de ensinar, principalmente sobre cidadania a seus alunos e familiares”.
O autor aplica as palavras ensinar, aprender e ousar, definindo-as. O ato de ensinar é subentendido pelo autor como educar e vice-versa e, para tanto é necessário a “paixão do conhecer”, que envolve o ensinante numa busca prazerosa, mas nada fácil. Quanto ao ato de aprender define-o como uma concessão ao educando das capacidades e habilidades para fazer uma leitura do mundo e repensar sua própria leitura numa atividade reflexiva que o torne consciente de si mesmo e de sua participação no mundo. Então, ousar, nada mais é, do que uma atividade de ensinar através do envolvimento emocional, pois aprendemos com todo o corpo, com a emoção e com a razão, sentimentos estes que jamais podemos dicotomizar.
Busca a restauração propondo a construção de um aprendizado em que a professora reconheça que também é uma aprendiz, comprometida com a ousadia de ações que desenvolva na tarefa crítica de ler e de escrever, as tramas sociais em que se constituem a linguagem, a comunicação e a produção de conhecimentos, fazendo da escola espaço de reflexão e conscientização, formadora de cidadãos realmente críticos e atuantes.
A obra evidencia a reflexão profunda a cerca da avaliação da prática da professora, que deve ser avaliada não para ser punida, e, sim, para melhor se formar, ou seja, aprimorar a sua prática pedagógica, para incentivo do prazer da atuação critica e do repensar permanentemente.
Vale a pena ler o livro e refletir sobre ele, concedendo atenção especial às cartas, uma vez que a leitura critica dos textos e do mundo possibilita a mudança do processo educacional. É preciso, então, compreender o processo estudar/ler/observar/reconhecer do ensinar e do fazer. Neste momento há um resgate das qualidades indispensáveis aos educadores alguns questionamentos se fazem presentes, sobre os quais vale refletir com a sociedade: o que é ensinar? O que é aprender? Que compreensão temos de mundo? Fazemos política ao fazer educação? O diferente de nós é superior ou inferior a nós? Como deve ser a escola democrática?
Enfim, o autor enfatiza a importância dos professores conscientizarem do papel político-social que devem assumir frente à sua função profissional.

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