terça-feira, 14 de julho de 2009

OS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO: CECÍLIA MEIRELES

INTRODUÇÃO
No Brasil, a participação da mulher na vida em sociedade e nos grandes acontecimentos do país data da década de 30, a “Era do Rádio” ( e das grandes cantoras: Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Araci de Almeida, Silvinha Melo, Alzirinha Camargo, a “Pequena Notável” Carmem Miranda, dentre outras), época da industrialização, do crescimento das grandes cidades, da “Revolução de 30”, da ditadura de Getúlio Vargas, do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, mas principalmente, década em que as mulheres começam suas atividades na cena pública, participando do mercado de trabalho (“trabalho extra-doméstico”) e tendo o direito de votar e de serem votadas.
Em 1934, a indústria têxtil conta com dezessete mil operárias. As mulheres obtêm conquistas trabalhistas, imitam a maquilagem das atrizes do Cinema norte-americano e o vestuário francês, vão à praia e às piscinas de “maillots” mostrando ombros e coxas e até participam de Olimpíadas: em 1932, a nadadora Maria Lenk inaugura a presença da mulher brasileira nesses eventos esportivos. Berta Lutz, fundadora da “Federação Brasileira pelo Progresso Feminino”, é quem mais luta pelos direitos sociais, políticos e econômicos das brasileiras na década de 30. Outro nome importante do feminismo da época é o da líder libertária, escritora e educadora Maria Lacerda de Moura.
Na Literatura, a Geração de 30 é considerada a responsável pelo amadurecimento do Modernismo Brasileiro. Passada a fase em que reinaram o nacionalismo, a irreverência, a rebeldia e a crítica sarcástica das paródias, dos poemas antropofágicos e dos romances telegráficos elaborados pelos escritores e das obras vanguardistas dos artistas que compunham os “Movimentos Nativistas” da década de 20 (principalmente o “Pau-Brasil” e o “Antropofágico”, que contaram com as participações especiais da jornalista e escritora Patrícia Galvão – a Pagu – e das artistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral), os artistas e escritores da década de 30, conscientes de que o Modernismo Brasileiro já havia conquistado “seu lugar ao sol”, passam a produzir uma obra de grande variedade de temas e de estilos, para que possam atingir os mais diversos tipos de receptores. A Literatura Brasileira de 1930-45, por isso, é marcada pelo surgimento da PROSA de ficção (Prosa Regionalista, Prosa Urbana e Prosa Intimista), da qual são seus melhores representantes: Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Érico Veríssimo e a primeira “acadêmica” brasileira, a romancista Raquel de Queirós, e com a EVOLUÇÃO DA POESIA, pois a poesia brasileira, além de temas nacionalistas, passa a abordar temas sociais, religiosos, históricos, metalingüísticos e até temas centrados simplesmente no “EU”, o que representa o reinício de uma produção poética essencialmente lírica; essa “poesia evoluída, madura” é a poesia de Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes e daquela que é considerada a “melhor dupla lírica” do Modernismo Brasileiro: Vinícius de Moraes e a primeira poetisa brasileira, Cecília Meireles.
No meio de todos os nomes importantes da História das Mulheres Brasileiras até aqui citados, o nome de Cecília Meireles é o escolhido como tema deste seminário, porque ela é a primeira brasileira a produzir e a publicar uma poesia em que o “EU” que nela se expressa é um “EU-LÍRICO FEMININO ”, uma “alma” feminina, o que lembra que a mulher é “alguém” e que, por isso, precisa também se lembrar de si mesma, precisa dizer ao mundo exterior o que se passa em seu mundo interior: quem é, o que sente, o que deseja, o que sabe e como a integração desses dois mundos (interior-exterior) podem aprimorar a vida em geral, já que é a mulher quem gera a vida humana. Além de ser um grande nome da História e da Literatura no Brasil, de ser a primeira poetisa brasileira, de ousar a falar de seu “EU” e do universo feminino numa sociedade ainda patriarcal por excelência, Cecília Meireles é também uma precursora das conquistas femininas em outros aspectos: na política e, principalmente nos ideais da educação.












BIOGRAFIA

Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, cuja poesia lírica é altamente personalista, freqüentemente simples na forma, mas contendo imagens e simbolismos complexos, deu a ela a importante posição na literatura brasileira do século XX.
Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Dª Matilde Benevides Meireles, Cecília Benevides de Carvalho Meireles, nasceu aos sete de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Fora a única sobrevivente dos quatro filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos de idade.
Órfã desde tenra idade, foi criada pela avó Jacinta Garcia Benevides. Desde cedo habitara ao exercício da solidão, tendo precocemente desenvolvido sai consciência e sensibilidade. Começou a escrever poesias aos nove anos de idade.
A paixão pelos livros e a leitura norteia o caminho da jovem Cecília. Aos dezesseis anos, ela se diploma professora. A vontade e o fascínio pelo saber a conduzem, então, para o estudo de outros idiomas.
Ainda que se fizesse versos e compreendesse cantigas para os seus brinquedos desde a escola primária, é na adolescência que Cecília começa a escrever poesias.
Em 1.919 publica o seu primeiro livro de poemas: Espectros.
Embora vivendo sob a influência do Modernismo, apresenta ainda em sua obra heranças do simbolismo e técnicas do classicismo, razão pela qual sua poesia é considerada intemporal.
A década de 20 foi uma época de revolução na literatura brasileira, mas o trabalho de Cecília naquele período mostra pouca afinidade com as tendências nacionalistas então em voga, ou com o verso livre e a linguagem colonial. Boa parte dos críticos considera suas formas mais tradicionais de poema o ponto mais alto de sua obra.
Casa-se em 1922, com o pintor português, Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas.






MOMENTO HISTÓRICO

A despeito de perseguições mais ou menos veladas, e de dificuldades financeiras, Cecília luta ainda mais pela renovação educacional vigente. No período de 1930 a 1933 dirige a página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Em seus artigos sobre política, educação e cultura, defende uma política menos casuísta e uma educação moderna. Cecília rompe tabus de uma sociedade deixando marca na História Brasileira como defensora da idéia universal de democracia numa década em que o mundo vive o período de transição das duas Grandes Guerras. No Brasil, Getúlio Vargas sai-se vitorioso na Revolução de 1.930. A “Página da Educação”, comandada por Cecília Meireles, causa fúria no meio político nacional. Cecília refere-se ao presidente Vargas como “Senhor Ditador”. Sustentando a idéia de um Brasil menos presunçoso, coleciona inimigos e desafetos.
Um grupo formado por vinte e seis membros, dentre eles uma única mulher, Cecília Meireles, lançaram em 1932 um manifesto que teve larga repercussão em todo país e foi reproduzido na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos: O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Esse grupo, que desde a década de 20 vinha lutando pela renovação do ensino no país, dirigia-se ao povo e ao governador, assinalando que: “na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação”. Seguia-se uma série de considerações sobre as diversas reformas de ensino aprovadas pelo governo em diferentes épocas. Desenvolviam-se considerações sobre o processo educativo, destacando o conceito e os fundamentos da educação nova. Também se analisava o conceito moderno da universidade e o problema universitário no Brasil.
Os primeiros frutos resultantes das idéias pregadas no manifesto surgiram logo a seguir, sobretudo nas reformas do ensino no Distrito Federal, que contou com o precioso apoio de Anísio Teixeira no período de 1.934 a 1.935.
Em 1.933, Cecília encerra seu trabalho frente à Página da Educação. Cansada da perseguição que sofria, manifesta, em correspondência, seu “horror” ao jornalismo. No entanto, ela troca o Diário de Notícias pelo jornal A Nação, contratada sob a condição de não escrever sobre política.
A convite do governo português Cecília dá início a um período de viagens ao exterior. Reaparece no cenário poético após quatorze anos de silêncio com a publicação do livro A Viagem, em 1.939, considerado um marco de maturidade e individualidade na sua obra: recebeu o prêmio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras. Daí em diante dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente até a sua morte. Vários de seus livros são inspirados nas muitas viagens que fez, viagens estas de grande significação, pois a autora extraiu do contato com gente, costumes e idiomas diferentes matéria de melhor compreensão da vida e da humanidade.
Faleceu no Rio de Janeiro a nove de novembro de 1.964, sendo-lhe prestados grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura.
Sua poesia foi assim julgada pelo crítico Paulo Ronai: “Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia da língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea”.




















TEXTOS ESCRITOS SOBRE A EDUCAÇÃO


Em seu livro, Crônicas de Educação, são reunidos textos publicados no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, em uma coluna denominada “Comentário”. Os textos foram selecionados e agrupados em núcleos temáticos: Educação, política e religião; Nova Educação, Escola Nova, Escola Normal e ensino público – formação do magistério e qualidades do professor. Neste livro o pensamento de Cecília foi devidamente ordenado em centros de preocupação pedagógica, pensamento iluminado pelos princípios da Escola Nova, amplamente debatidos num período verdadeiramente áureo da educação brasileira.
























CONCLUSÃO

Cecília Meireles rompe tabus de uma era onde a mulher não participava da vida em sociedade e nos grandes acontecimentos do país.
Fora perseguida, enfrentou problemas financeiros, mas não desistiu da renovação educacional.
Apesar de ter convivido com várias mortes manteve-se consciente e sensível, escrevendo poemas que revelaram a alma feminina, sendo a precursora das conquistas femininas no país e um marco nas mudanças educacionais.


























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MEIRELES, CECÍLIA. Crônica de Educação 3. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001. 262 p.

NISKIER, ARNALDO. Educação Brasileira: 500 anos de história, 1500 – 2000. 2 ed. Rio de Janeiro, Consultor, 1995. 648 p.

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