quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

CONCEPÇÃO INSTRUMNETAL OU COGNITIVISTA DA EDUCAÇÃO

1.1– INTRODUÇÃO
Há muito se discute a temática da dificuldade de aprendizagem na alfabetização. Contudo, a persistência de tal problema, expresso em dados estatísticos, aponta sua complexidade e atualidade. Por esse motivo, as questões relacionadas ao fracasso escolar vêm sendo tratadas, nas últimas décadas, como um dos focos principais das preocupações e discussões de educadores, no que se refere à problemática atual do sistema de ensino. Porém, apesar destes esforços, tal situação continua muito presente na educação brasileira, principalmente nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
Como premissa principal deste trabalho, a dificuldade de aprendizagem na alfabetização será vista como um fenômeno que foi “historicamente produzido e criado por médicos e psicólogos e que vem sendo tratado de forma patológica, naturalizada e a-histórica pela maioria das escolas”.
Para pensar o fracasso escolar como uma construção sócio-histórica e não como uma “condição natural” dos menos favorecidos faz-se necessário um resgate pela história, a fim de que se tornem claras as raízes implícitas desta questão.
Segundo Cordié (1996, p.17), “o fracasso escolar é uma patologia recente. Só pôde surgir com a instauração da escolaridade obrigatória no fim do século XIX e tomou um lugar considerável nas preocupações de nossos contemporâneos em conseqüência de uma mudança radical na sociedade”. Somente a partir desta data, é que a escola passa a ser valorizada como um instrumento de ascensão e de prestígio social, principalmente entre a classe média e a elite. Entre algumas famílias, a possibilidade de uma escolarização com sucesso, passa a ser a única forma de vislumbrar um futuro diferente. A partir daí e cada vez mais, os alunos com dificuldade de aprendizagem na escola eram os que eram vistos como os que iriam fracassar na vida.
Surgiram então, diversas teorias que explicavam o fracasso escolar, cada uma levando em consideração alguns aspectos isolados, sem fazer uma análise mais abrangente do fenômeno Todas as tentativas de explicar o fracasso escolar têm em comum a postura de “culpar” o aluno ou o seu meio sócio-cultural pela não-aprendizagem.
No início do século XX, por meio da ampla divulgação dos trabalhos de Binet e Simon, iniciou-se a era da psicometria. Para Bossa (2002), a partir daí a dificuldade de aprendizagem escolar foi associado ao déficit intelectual e à baixa inteligência (ou ao baixo Quociente de Inteligência - QI), surgindo assim a concepção cognitivista.
De acordo com Patto (1996, p.40) “... a psicologia veio contribuir para a sedimentação desta visão de mundo, na exata medida em que os resultados nos testes de inteligência, favorecendo, via de regra, aos mais ricos, reforçavam a impressão de que os mais capazes ocupavam os melhores lugares sociais”. Esta teoria instituiu a prática de submeter aos diagnósticos médicos e psicológicos as crianças que não respondiam ao esperado pela escola. Criou-se, com isto, uma verdadeira fábrica de rótulos, reproduzidos no interior das escolas.
A concepção cognitivista é indicada como pertencendo ao campo do intelecto.

1.2– ÉPOCA
Surgiu no início do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, desenvolvendo-se, primeiramente, em parte da Europa e dos Estados Unidos.

1.3. – ORIGEM
Originou-se de uma vertente da Psicologia, apresentando-se como Psicologia da Educação ou Psicologia Escolar, embasada na tentativa de criticar a concepção organicista e a dislexia, desenvolvendo o que se chamou de processo cognitivo, ou seja, processo de conhecimento.
1.4. – CARACTERÍSTICAS DO APRENDIZ:
• Lentidão;
• Problemas de memorização;
• Dificuldade de expressão;
• Anti-intelectual.
1.5.– CLASSIFICAÇÃO DOS DÉFICITS PSICOLÓGICOS
• Percepção
• Memória
• Linguagem
• Pensamento
1.6. – DEFINIÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
São conseqüências de perturbações de um destes quatro processos (percepção, memória, linguagem e pensamento), ou a conjugação de dois ou mais processos.
1.7.– ORIGEM DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
As dificuldades de aprendizagem se devem, basicamente, a:
• Imprecisões perceptivas auditivas e visuais;
• Transtornos motores;
• Transtornos de linguagem;

1.8.– DÉFICITS COGNITIVOS
Os possíveis “transtornos” observados no aprendiz estão vinculados a:
• Inteligência;
• Imagens
• Percepção;
• Integração dos sentidos audiovisuais;
• Memória;
• Atenção seletiva;
• Linguagem.
1.9. – CRÍTICAS À CONCEPÇÃO COGNITIVISTA
• Tentativa de comprovação de um déficit na inteligência;
• Situação de teste a que são submetidas as crianças para possível comprovação do problema
• A relação adulto/criança não foi um fator considerado numa situação de teste;
• Os aprendizes com características de maus leitores foram avaliados através de testes de memória imediata;
• Natureza de suas investigações ocorre apenas na esfera intelectual, desprezando o desenvolvimento físico enfocado na teoria organicista;
• Houve certa continuidade da teoria organicista na produção científica sobre os problemas de aprendizagem: o conceito de maturação e uso das expressões relacionadas aos transtornos fisiológicos.
1.10.– DÉCADA DE 80
Os cognitivistas se dividiram em duas correntes:
1. Uma delas defendendo que as crianças das camadas populares possuíam defasagem (déficit) no desempenho cognitivo;
2. A outra apontando que as crianças das camadas populares possuíam diferenças em termos culturais e lingüísticos.
Nesta mesma década:
• Evidenciaram que a aprendizagem da linguagem escrita é uma aquisição conceitual e que os aspectos referentes à maturidade, à percepção e à motricidade não determinavam o processo de alfabetização, mas, no entanto, poderia influenciá-lo.
• Destacaram os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
Antes da década de 80, o processo de alfabetização era entendido:
1. Pelos organicistas: como aquisição de habilidades motoras, perceptivas e intelectuais: não exclusivamente de ordem orgânica ou intelectual, mas também de ordem sócio-cultural.
2. Pelos cognitivistas: como uma aquisição conceitual: abordando os aspectos relacionados à capacidade de aprendizagem, o funcionamento cognitivo e a metodologia do ensino.
1.11.- CONCLUSÃO:
Apesar das mudanças de focos sobre o processo de alfabetização, permaneceu a visão de que o fracasso escolar estava sob a responsabilidade do plano social, pois o aluno passou a se fracassar por não ser considerado capaz de realizar a transposição no nível simbólico.

2 – Concepção dos Transtornos Afetivos da Personalidade

• Fundamentada numa corrente da teoria psicanalística: é "um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é global e inflexível, tem início na adolescência ou no começo da vida adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento e prejuízo".

2.1. Eixo de Análise

• Relações familiares vinculadas ao desenvolvimento emocional apresentados pelo sujeito em questão.

2.2. Características do Aprendiz

• Desvios de conduta;
• Repertório comportamental indesejável.

2.3. Fatores determinantes das dificuldades de aprendizagem

• Perturbações afetivas;
• Características e personalidade apresentadas pela criança;
• Maturidade dos aspectos afetivo-emocionais da criança.

2.4. A Dislexia

• Configura como um sintoma neurótico ou psicótico e pode ser uma forma de linguagem da criança (meio encontrado por ela para evidenciar suas dificuldades no plano afetivo).

2.5. Definições das dificuldades de Aprendizagens
• Considerada como um sintoma dos conflitos da dinâmica familiar;
• Os objetivos da aprendizagem: leitura e escrita são colocados em plano secundário;
• Delimita a causa das dificuldades no plano afetivo.

2.6. Problemática

2.7. INVERSÃO DA PROBLEMÁTICA

2.8. Ponto de Reflexão

Quais os transtornos (sintomas, causas) afetivas que poderão levar o aprendiz à defasagem de aprendizagem?

2.9. Contribuição da Psicologia para a concepção
• Criação da terminologia que caracteriza o aprendiz com problemas escolares, com o rótulo “criança problema”.
• Tinha como finalidade a pretensão na correção dos desajustes infantis através da higiene mental.
• “Psicologização do fracasso escolar”, definição do referencial desenvolvido pelos psicólogos clínicos.

2.10. Conclusão
O pressuposto norteado pela Psicologia Clínica, baseado no estado afetivo-emocional da criança não se coloca como referencial do processo de aquisição da leitura e da escrita.
Neste contexto subtende-se que, se a criança estiver saudável emocionalmente, ela não apresentará problemas de aprendizagem.
Assim sendo, as variáveis do processo ensino-aprendizagem deixam de se interar à análise da abordagem dos transtornos afetivos e familiares.

4.Conclusão Final
As concepções cognitivista e de transtornos afetivos da personalidade deixaram de considerer as diferenças existentes entre a lingua falada e a lingua escrita, fato esse que pode ter gerado os rótulos em torno das abordagens do ensino-aprendizagem.

5.REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
BOSSA, N. A. Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
CORDIÉ, A. Os Atrasados não Existem: psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
PATTO, M. H. S. A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1996.

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