sexta-feira, 4 de junho de 2010

LER PARA APREENDER - ESTUDO CONTEXTUALIZADO

"Aprender a ler e escrever é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, localizar-se no espaço social mais amplo, a partir da linguagem". Paulo Freire (1979). Devemos lembrar, de acordo com as palavras de FREIRE, que o homem está no mundo e com o mundo, produzindo-o e transformando-o, preenchendo com a cultura os espaços geográficos e os tempos históricos. Ele se identifica com sua própria ação: objetiva o tempo, temporaliza-se, faz-se homem-história.
O processo de alfabetizar pode, às vezes, ser difícil e confuso. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o aluno precisa aprender a dominar as habilidades da língua: ler, escrever, ouvir e falar.
Com o ato de ler desenvolvemos nossa capacidade de raciocínio, nossas habilidades com relação às palavras e melhoramos nossa condição para a escrita. Mas será que simplesmente ler ou fazer a leitura é o suficiente para o aprendizado? Todos sabem que há diferença entre ver e olhar, ouvir e escutar... Ler não é apenas passar os olhos por algo escrito, não é fazer a versão oral de um escrito. Ler não é somente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão conseqüência natural dessa ação. A aprendizagem da leitura constitui uma tarefa permanente, que vai se aprimorando e enriquecendo com novas habilidades à medida que são trabalhados textos cada vez mais complexos. Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é. Um poema ou uma receita, um jornal ou um romance, provocam questionamentos, exploração do texto e respostas de natureza diferente; mas o ato de ler, em qualquer caso, é o meio de interrogar a escrita e não tolera a amputação de nenhum de seus aspectos.
Atualmente, stamos vivendo a "era do conhecimento", ou seja,  era da globalização e da tecnologia das informações. Neste contexto formar leitores competentes, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, testemunhar o uso que os já leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato. Num trabalho de linguagem onde o texto é a base, o objetivo é buscar informação e o exercício da reflexão. Neste caso, o texto deixa de ser um conjunto de regras a serem apreendidas para se tornar algo que se usa socialmente em efetivas ações de nosso dia-a-dia. As mídias convencionais ou eletrônicas apontam para uma revolução pós-industrial, centrada no conhecimento. Estamos na chamada sociedade do conhecimento em que um aprendente dedicado à pesquisa pode, em pouco tempo, superar os conhecimentos acumulados do mestre. E tudo isso é bom para quem ensina e para quem aprende.   “Quem lê, sem dúvida nenhuma escreve melhor”.
O ensino da compreensão da leitura tem um valor formativo no âmbito do desenvolvimento pessoal e social dos alunos, desde as primeiras etapas de iniciação à leitura. A língua escrita é um veículo de comunicação sociocultural que difunde valores, ideologias, conhecimentos sobre o mundo. Através da leitura, o nosso campo de experiências (fonte de conhecimento e desenvolvimento) amplifica-se para além das fronteiras das experiências diretas.
Se os benefícios da leitura são evidentes para o modo de comunicar e aprender, a proximidade funcional entre a língua escrita e a oral deve ser evidente para um aluno desde no início da vida escolar.  A leitura pode tornar-se uma das atividades mais gratificantes para o aluno, quando este perceber que a leitura pode ajudá-la a cumprir objetivos cognitivos, lúdicos, afetivos e sociais.
São três os fatores que influem no desenvolvimento da capacidade de aprender: 1) Primeiramente, a atitude de querer aprender. O segundo fator diz respeito ao desenvolvimento do interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e sociais, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, conforme o que determina o artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB nº 9394/96.As maiores dificuldades dos alunos residem no aprendizado de estratégias de aprendizagem. A leitura, a escrita e a matemática são meios ou estratégias para o desenvolvimento da capacidade de aprender. Entre as três, certamente, a leitura, especialmente a compreensão leitora, tem o seu lugar de destaque.
Ler para aprender é fundamental para qualquer componente pedagógico do currículo escolar. Através dessa habilidade, a leitura envolve a atividade de ler para compreender, exigindo que o aluno, por seu turno, aprenda a concentrar-se na seleção de informação relevante no texto, utilizando, para tanto, estratégias de aprendizagem e avaliação de eficácia.O conhecimento é possível de ser democraticamente capturado ou adquirido por todos: todos estão em condições de aprendizagem. Claro, a figura do professor não desaparece, exceto o modelo tradicional do tipo sabe-tudo, mas passa a exercer um papel de mediador ou instrutor ou mesmo um facilitador na aquisição e desenvolvimento de aprendizagem.
A tarefa do mediador deve ser, então, a de buscar, orientar, diante das diversas fontes disponíveis, especialmente as eletrônicas, os melhores sites, indicando links que realmente trazem a informação segura.
No ensino fundamental, os alunos devem escrever narrativas, diálogos, poesias, contos; fazer resenhas de livros, colocando suas opiniões sobre determinados personagens, enredo, final da história; dizer por que gostaram do livro e se recomendam ou não para seus colegas de classe. Este tipo de prática vai desenvolver neles uma leitura crítica e perspicaz. Eles vão, aos poucos, percebendo por que gostam de determinada leitura e preferem abandonar outras. Vão se tornando leitores qualificados, identificando estilos e tendências.
Na leitura de jornais e revistas, deve-se tentar identificar os tipos de texto apresentados nesses veículos — editoriais, entrevistas, boxe (com pequenas notícias), reportagens, etc.
—, analisando, em cada um deles, os tipos de linguagem e recursos usados; observar a relação dos títulos com o conteúdo e as ilustrações — fotos, mapas, quadros estatísticos —, tentando entender o conjunto do texto; analisar editoriais, capas, sumários, créditos, propagandas (que financiam as publicações); perceber os objetivos de cada publicação. Os jornais podem vir de toda a parte — os de grande circulação, os de sindicatos, associações de bairros, igrejas, etc. O material deve ser o mais variado possível.
Uma boa prática no ensino da língua é dar ênfase à leitura e à escrita.  O jovem precisa da escola não só para aprender, mas para ser cidadão. A escola deve ser o elemento agregador, o lugar de conflitos e crescimento e, sobretudo, de reconhecimento. A turma da escola é a melhor lembrança na vida adulta, e o professor deve ser lembrado como aquele que ajudou no seu processo de aprendizagem e amadurecimento.
Portanto, ler, pensar, escrever, são os caminhos que estão sempre abertos para quem quer aprender. E quanto ao escrever, tanto o exercício quanto o hábito podem tornar um aprendiz autônomo e competente produtor de textos.
Como transformar alunos passivos em alunos ativos, autônomos e responsáveis? Só há uma saída: através do estudo contextualizado. O que é isso?  Contextualizar é entender, analisar ou interpretar o significado de algo levando em conta o contexto, ou seja, aquilo que constitui o texto na sua totalidade e nas circunstâncias de ocorrência.
Edgar Morin, filósofo francês escreve no livro Terra Pátria:
"O pensamento que compartimenta, separa e isola, permite aos especialistas e experts ter um alto desempenho em seus compartimentos e cooperar eficazmente em setores de conhecimento não complexos, especialmente os que concernem ao funcionamento das máquinas artificiais; mas a lógica a que eles obedecem estende sobre a sociedade e as relações humanas as coerções e os mecanismos inumanos da máquina artificial, e sua visão determinista, mecanicista, quantitativa e formalista ignora, oculta ou dissolve tudo o que é subjetivo, afetivo, livre, criador” ( pág. 161). Lidar com o ser  humano pressupõe estudos complexos, e isso exige conhecimento contextualizado. Pode parecer simples, mas para se atingir o simples temos de escalar montanhas de conhecimentos complexos, estudar criativamente e realizar muita reflexão. Trabalhar com boa vontade sem dúvida é importante. Porém, sem o hábito de ler criativamente ninguém consegue lograr o nível almejado
Referencial Bibliográfico 

FOUCAMBERT, Jean. Artigo publicado em l'Éducatíon, 22 de maio de 1980. In “A leitura em questão”. editora Artmed.
 FREIRE, Paulo (1979). Ação cultural para a liberdade. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.


MARTINS, Vicente. graduado e pós-graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará(UECE). Mestre em educação pela Universidade Federal do Ceará(UFC). Professor, há dez anos, dos cursos de Letras e Psicopedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.
Matéria publicada em 01/04/2004   - Edição Número 56

Sergio Eduardo PortArtigo escrito em: Dez/01 Publicado no culturatura em: Jun/02
  


Nenhum comentário:

Postar um comentário