quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dibs, em busca de si mesmo

RESENHA


AXLINE, Virginia M. Dibs, em busca de si mesmo (psicoterapia infantil). Tradutora: Célia soares Linhares editora : Agir, RJ. 2.001. 22ª edição. Editado no Overmundo. A tradutora do livro, Célia Soares Linhares, natural de São Luís, Maranhão, é Bacharel e licenciada em Pedagogia pela Universidade do Maranhão. Após 10 anos de magistério superior, seguiu para os EUA, onde em 1969 recebeu o grau de Máster em Filosofia e Sociologia da Educação pela Universidade Estadual de Michigan. Lecionou cursos de mestrado da Faculdade Federal Fluminense.


A autora Virginia Axline, é autoridade internacionalmente conhecida na técnica de Ludoterapia em tratamento de crianças com distúrbios emocionais.
Estudou na Universidade Estadual de Ohio e na Columbia University.
Ensinou durante seis anos na Faculdade de Educação e de Medicina da Universidade de Nova York.
Trabalhou em pesquisas no Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago.
Atualmente a Drª Axline está engajada na sua clínica particular em Ohio, onde continua a comunicar sua sabedoria e habilidade profissional através de conferências, consultas e obras escritas, além disso, ensina na Universidade Estadual de Ohio.
Nesta obra a autora relata com certeza uma situação vivida na qual pôde fazer e relatar suas experiências; no assunto tratado sobre a importância da "Ludoterapia".
O livro oferece, inicialmente, uma visão daquilo que a autora chama "a busca de si mesmo" e, neste caso, pateticamente empreendida por um pequeno ser humano atormentado.
Trata-se de uma história verídica no tratamento de uma criança com distúrbios emocionais, marcada por profundos traumatismos desde o nascimento.
Narra o desabrochar de uma personalidade forte e saudável de uma criança rejeitada afetivamente e atormentada pelas necessidades de amparo e carinho que lhes eram negados pelos pais.
Dibs, nome fictício adotado para identificar a criança, era filho de um cientista renomado e de uma mãe, uma profissional também conceituada. Quando se casaram não pretendiam ter filhos muito cedo e, se dependesse do pai, não os teriam nunca. Eis que, repentinamente, surge a noticia de uma possível gravidez, que na realidade seria a vinda de Dibs. A chegada da criança provocou uma grande revolução na vida do casal, que sonhavam, ainda, com suas ascensões profissionais. Este desequilíbrio na vida do casal acabou por transtornar a vida daquela pequenina criança.
Em sua comovente narrativa,a autora nos coloca em contato com o mundo de Dibs: uma criança que não falava, não brincava e que vivia perdido sem si mesmo.
Na tentativa de mudar a vida do seu filho, uma criança bonita, que sofria com as dificuldades de vivência com o pai, uma pessoa tão culta que dispensava ao pequeno conforto, amor, carinho e atenção, além disso, considerava-o um verdadeiro idiota, a mãe resolveu ter mais uma criança para ver se o problema da Dibs amenizasse e que, por fim, só piorou a situação, pois todas as atenções se voltaram para pequena e mimada Doroty.
Sem o apoio incondicional e o amor da família, tradicional, exigente e extremamente conservadora, Dibs não encontra campo para de expandir, tornando-se um menino arisco, problemático e fechado em si mesmo, mas ciente de tudo que o rodeava.
Devido a sua pouca idade, não tinha noções e se sentia perdido entre o mundo da criança e o mundo do adulto, da fantasia e do real, entre o certo e o errado e entre o bem e o mal.
Ajudada por sua tia, a mãe coloca Dibs numa escola particular. Na escola suas atitudes eram inconstantes. A princípio não falava de modo algum. Sentava-se mudo e imóvel durante todo o período que ali permanecia turno matutino. Outras vezes, engatinhava ao redor da sala, preso em seu próprio mundo e desligado das outras crianças e professora.
Mudava de comportamento, de forma brusca, com violentos acessos de raiva.
Professores, psicólogos e pediatra da escola não mais o compreendia. Foram várias tentativas para penetrar em seu mundo e descobrir o porquê de suas atitudes, muitas vezes absurdas.
Seria Dibs um retardado mental? Teria seu cérebro sofrido alguma lesão quando do seu nascimento? Poderia ser ele um autista? Ninguém sabia responder.
No exaustivo trabalho em ajudar o garoto, todos os membros da escola já estavam esgotados. A solução, então, seria mandá-lo embora da escola.
Dibs tinha uma família que todos poderiam chamar de “perfeita”. Seus pais eram bem sucedidos, possuíam dinheiro para qualquer coisa que ele viesse precisar e mesmo assim a criança era muito excêntrica.
Havia algo que impedia que a equipe multidisciplinar da escola tivesse uma classificação exata daquela criança, devido às suas atitudes: às vezes apresentava indícios de retardamento mental, outras vezes conseguia realizar suas atividades com rapidez e tranqüilidade, o que evidenciava possuir um nível de inteligência superior, uma inteligência rara e um QI elevadíssimo.
Os pais, no entanto, preferiam acreditar que o filho era um retardado mental e admitir que seu drama fosse causado por problemas mentais.
Convidada a participar de uma conferência na escola de Dibs, Drª Axline, tem a primeira noção de quem era Dibs e aceitou o desafio de ajudá-lo no encontro “consigo mesmo”, utilizando a técnica da Ludoterapia.
Com o consentimento de seus pais, Drª Axline de dispôsa atendê-lo na escola: para observá-lo no contato com o grupo e, por algum tempo, tentaria vê-lo sozinho.
E foi através da sala e dos brinquedos existentes na escola, que Dibs foi se revelando: não gostava de portas e janelas trancadas; ao brincar com tintas e brinquedos de montar mostrava-se uma criança organizada e ponderada. Ao mesmo tempo, deixava ser dominado pelo rancor e pela raiva diante de suas atitudes para com a Drª Axline.
A participação da mãe e seus relatos contribuíram no processo de busca da verdadeira identidade de Dibs e de sua história à procura do seu autêntico caminho.
Dibs pôde extravasar tudo o que sentia e realmente se auto-reconhecer. Foi se soltando aos poucos e se revelando. Sua mãe, também, conseguiu colocar todo seu medo, suas angústias e expectativas frustradas diante do nascimento de Dibs.
Foram sessões fortes emocionalmente: Dibs podia falar livremente, pensar e mostrar todas as suas potencialidades e livrar-se de seus medos e angústias. Era um menino altamente inteligente. Queria, apenas, viver, ter espaço, ser feliz, ser normal e descobrir quem era ele mesmo.
As sessões de Ludoterapia contribuíram para suas mudanças: aprendeu a acreditar em si mesmo, a libertar-se, ter tranqüilidade e ser feliz. Foi capaz de ser criança. Libertou-se dos seus “rótulos” e de todas as atitudes recriminadas pelo pai, sem precisar ficar preso dentro de um quarto.
Nas sessões havia oscilações, que às vezes parecia regredir e voltar ao estágio inicial. Porém a sabedoria e a paciência da terapeuta levam-nos a refletir sobre o respeito que temos de ter com o tempo de cada um, sem interferir.
Ocorrido dois anos e seis meses após o tratamento psicoterapêutico, Dibs encontra com Drª Axline. Juntos recordaram dos brinquedos, da areia, do mundo por ele constituído e de como eram as suas brincadeiras.
Recordaram das palavras ditas que pouco a pouco começou a fazê-lo acreditar que Drª Axline como sua amiga e o caminho aos poucos foram se abrindo. Dibs lutou contra os seus inimigos internos, até que estes se arrependeram por ter lhe ferido tanto. Então, descobriu que jamais esteve amedrontado.
Quando se tornou conhecedor de suas próprias feições aprendeu a se controlar e dominar seus temores.
Suas condutas foram modificadas e, assim, pode mostrar toda sua nobreza e coragem diante de seus pais, sua irmã e todos que faziam parte do seu mundo. Aqueles que não o compreendiam e muitas vezes o negava puderam notar sua inteligência e tudo aquilo que aprendeu através da sua vontade própria e de seu desejo de encontrar-se. Venceu seus teores e tornou-se um jovem valente e astucioso.
Com a leitura desse livro, o pedagogo poderá analisar o crescimento humano, o sucesso na escola, ou a aquisição ou complexos de habilidades que podem ser conquistadas pela mera repetição generalizada, sem julgamentos, que muitas vezes forçam situações querendo que ocorram verdadeiros “milagres”. Cabe-nos olhar profundamente para cada ser humano buscando compreender as razões do seu comportamento, lembrando-se sempre que: “toda criança precisa de atenção e carinho”.
O tema foi abordado pela autora de maneira simples e muito objetiva, deixando-nos uma mensagem: "uma criança, quando possibilitada a oportunidade, pode vivenciar a alegria de uma comunicação honesta e sem hipocrisias. Uma mãe, quando respeitada e aceita com dignidade, sabendo que não será criticada ou censurada pode expressar-se com autenticidade sincera”.
A obra é original e emocionante. Uma história verdadeira que busca nos auxiliar no entendimento dos problemas emocionais trazidos pelas pessoas, principalmente se essas forem crianças indefesas que estão apenas construindo seu mundo, suas idéias e sua felicidade.
É destinada principalmente aos profissionais nos ramos da pedagogia e da psicologia, que possuem alunos e/ou pacientes "Dibs", que não encontram respostas para seus problemas; aos pais que querem poder realmente entender e compreender seus filhos; e aos demais leitores servem para lembrar que nunca podemos “rotular” ninguém sem realmente conhecermos a verdadeira história que cada um traz dentro de si.
Dibs: em busca de si mesmo, é um livro fascinante, cativante e motivador. De leitura obrigatória para quem almeja ingressar nas áreas de pedagogia e de psicologia.

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